terça-feira, 20 de março de 2007

A fila da histeria


Histeria coletiva. Não há definição melhor para a cena de ontem no pavilhão do Centro de Convenções. Milhares de pessoas esperando o dia todo em uma fila gigante para pagar R$ 160 (R$ 80 se fossem estudantes e tivessem chegado antes das 7h) pelo direito de assistir a um show. Senhoras de meia idade, profissionais liberais, artistas, playboys e mescs (muitos mescs) se acotovelavam na fila que não andou um passo sequer até por volta das 11h.

Chico Buarque é um grande artista e um gênio da música, mas seu show não vale um ingresso que custa quase a metade de um salário mínimo. Muito menos se para conseguir comprá-lo, o ser humano tiver que ser submetido a uma espera tortuosa de até 12 horas. O pior era o desespero das pessoas na fila: meninas e senhoras chorando e gritando “este vai ser o último show dele, ele não vai mais tocar no Recife. Eu tenho que ver aqueles olhos verdes (ou seriam azuis)”. Peraí, galera. Se não acontecer uma tragédia ele vai tocar no Recife outras vezes.

Passei no pavilhão rapidamente para encontrar duas pessoas que esperavam, desde o início da manhã, para comprar os ingressos delas e de mais seis. Não consegui ficar muito tempo vendo aquilo, apesar de terem acontecido algumas cenas memoráveis como a mulher que jogou charme para o policial e furou a fila perto da bilheteria, sendo expulsa na porrada pelos infelizes que esperavam desde cedo. Não sei porque não fizeram o mesmo com aquelas pessoas que compraram 50 e até 140 ingressos de uma vez!

Foi um tal de gente matando aula e trabalho para estar ali naquele “momento histórico”. Cada um que tentasse convocar o idoso da família para poder avançar na fila. O desespero tomou conta do povo quando acabaram os ingressos de estudante, mas é incrível como não quebraram pelo menos umas duas bilheterias pra saquear as entradas e distribuir entre os coitados que passaram o dia lá.

Entre mortos e feridos, todos se salvaram e fui agraciado com um ingresso (de presente, porque não tenho R$ 160 fácil assim). Mas criei um abuso desse show. Pretendo vender a entrada por um bom preço e curtir o CD de Chico na praia. Quem tiver interessado, pode fazer uma proposta.

(Em breve, o Vigia vai divulgar um ensaio fotográfico exclusivo com imagens da fila)

11 comentários:

Thaís Gouveia disse...

eu tb acho afetação demais esse frisson todo. o cara vem aqui duas vezes na década, cobra um preço desses e nem dançar na boquinha da garrafa ele dança. se pelo menos esse ingresso desse direito a um beijinho...

Mandrey disse...

João, leiloar o ingresso adquirido "sofrívelmente" por sua mãe no dia do próprio aniversário dela é, no mínimo, uma monstruosidade de sua parte. Além de fazer de você um verme cambista (um pleonasmo proposital). Curta o show porque eu estarei lá também (com um grande incentivo da Tia Louca, que custeou 100 dinheiros, fazendo com que eu desembolsasse apenas 60. Predileto é predileto. hehehe).

João Victor disse...

Pois ela concordou com o leilão e ainda disse que eu deveria aplicar no preço do ingresso! huahauhauahuah

Giliate C. Coelho Neto disse...

É isso João, eu também tou fora dessa. Um absurdo. Hoje eu ouvi uma trabalhadora da prefeitura falando "eu peço para meus alunos ouvirem chico buarque, e quando ele vem para aqui, cobra um preço desses. É por isso que eles vão para psirico, calypso e outras coisas do tipo".
Fico pensando o que faz um artista extremante rico e sensível como chico buarque permitir uma coisa dessas.
Tinha que ter um show lá na linha do tiro, onde trabalho, ou qq outro bairro da periferia do recife, de graça, para o povo.
E depois ele poderia fazer o show para a classe rica do recife e cobrar o preço que quiser.

Prefiro esquecer esse episódio, e continuar a aconselhar as pessoas a ouvir a obra de chico.

abraço,

gili

Luciana Cavalcanti disse...

rsrsrs... vais leiloar o ingresso é?!? E tu conheces tantos MESCS assim que queiram comprar????

...Sério: texto bárbaro!!! adoooorei...! Aliás, por que eu usei esta gíria não pernambucana???? Deve ser algo subliminar porque o Show é Cariocas e é bem Paulista...ou não!, como diria Caetano. Por falar em Caetano, em sendo ele mais desinibido se a gente pagar 160 por um show dele pode gritar pra ele tirar a roupa?!?

enfim! Xêro...

Anônimo disse...

Vi o último show dele aqui, As Cidades, em 1999, e paguei somente R$ 60 (inteira). O aumento foi de 166%. E não teve correria nem tumulto para comprar o ingresso. O que tornou ele tão popular nestes oito anos?

Anônimo disse...

T Repress diz:
Eu ia perguntar, como Medeirola,no
júri, em Garanhuns, "...Ôh João ,o
que estavas fazendo lá, se achas um
absurdo"?
O show é para a burgesia e o ingresso para eles ainda tá barato,
pois podem pagar muito mais e evitaria a presença de pobres enxe-
ridos tumultuando a fila.
Nos anos oitenta, na bela Ipanema ,
teve fila e tumulto numa fila na
porta de uma botique, para comprar
camiseta com o design da COCA-COLA!
Imbecis pagando,e caro, para fazer
propaganda da COCA.
O que vejo aí não é mesmo a vontade
de ver Chico. Vejo mais a demonstra
ção(falsa) de statusk, por ter ido a
um show de R$160,00, aonde só tinha
"bombado".
Para o povo ver na Linha do Tiro,
bastava o ex-operário João Paulo(
vem cá, minha SandY/Junior) bancar
com o dinheiro do povo, claro.

Mariana disse...

acho que o fenõmeno em questão não é o aumento dos fãs de chico. mas o aumento dos mescs no recife. a maioria dos histéricos eram os mesmos fãs de mombojó - quem não lembra da histeria das mombojetes?
chico, para muitos, é só a versão anos 70 das bandinahs de agora. gente que veste roupinha hippie comprada em butique.
não sou mesc. prefiro gastar o dinheiro do ingresso em vinho e num jantar feito em casa mesmo. a única vez que gastei quantia perto do valor do show em uma noite foi numa boa degustação de exemplares portugueses da bebida de baco. e acho que se chico tivesse que optar entre uma noite regada a vinho e massas a um show dele mesmo, ia ficar com a primeira opção.
tentei fazer um comentário antes, mas o blog me vetou - n joão, mas o site que deu erro. giliate falou por mim.

Unknown disse...

Li em algum blog desses de jornal que o sonho de João Paulo é trazer Chico Buarque pra tocar no Marco Zero. Pela disponibilidade da prefeitura em realizar mega-shows (isso não é uma crítica, mas uma constatação), não seria impossível. Resta saber se haverá espaço na "agenda" do cantor. Quanto a histeria nas filas, ela é a mesma de gente que se digladia pra ver Sandy & Júnior, Calipso, Tom Zé ou qualquer outro mito, construído a partir das diferenciações de cada um (ou coletivamente no caso das maria-vai-com-as-outras) entre o bom e o ruim. Que Chico Buarque é genial, é inegável, no entanto, faz-se necessário ponderar se vale mesmo pagar tanto somente pra ter a sensação de estar perto de uma estrela. Depois de uma confusão dessas, o show corre o sério risco de não prestar para aqueles que querem ouvir o cantor e não gritinhos histéricos e aplausos que parecem não findar. Muvuca por muvuca, em favor da pirangagem, é melhor torcer pelo Marco Zero! ;)

Anônimo disse...

Cheguei a cogitar a possibilidade de ver Chico mas ao ser aconselhada pelo meu grisalho pai que com 160 pilas poderia eu comprar um aparelho DVD e um DVD do próprio indivíuo pela mesma bagatela, e de saber [na terça de manhã] as tosquices que rolaram na fila...Desisti!
Volto à campanha "Queremos Chico no FIG 2007!!!" Afinal, serão 20 anos de festival!
Sonhava com isso há anos, com esse campanha. E agora com um mote desses...
E ai João? Tu que é bem mais articulado que eu, acha que rola? Rola Dudu investir pra seu 'pseudo-pai' tocar em praça pública em Garanhuns!? Rsrsrsrsrsrs Não seria nada mal, hein?! Fala com Bob Leo pra articular ;) Hauhauhauhau

Assino em baixo no comentário e email pra lista dA Ciranda feitos por Gili.

Dado disse...

Eu acho que mais Mesc do que entrar na fila é ficar leiloando o ingresso, para dizer que está acima de Chico Buarque. Se Brasília deixar, eu vou. Joãozinho, foi mal, nem te liguei, mas Rodolfo tinha essa responsabilidade. Ele fez?