terça-feira, 19 de junho de 2007

Tratamento de choque



Desde a minha infância, fui classificado como hipocondríaco injustamente, apenas porque sempre tive alguns cuidados para não pegar doenças e porque gostava de ler bulas para decorar os tratamentos de diversas patologias. Como estou trabalhando há um mês dentro de um hospital, superei alguns tabus e cada vez mais me convenço da injustiça que representa a alcunha atribuída a mim. Confiram os principais pontos dessa evolução:

Tabu 1 ­– O botão do elevador. Antigamente, eu não apertava botões de elevadores de nenhum hospital, fosse ele público, privado ou filantrópico. Ficava esperando alguém chamar a máquina e quando a adentrava, rezava para que alguém fosse ao mesmo andar que eu. Hoje, chamo o elevador com uma certa naturalidade e nem corro para lavar as mãos depois.

Tabu 2 – A respiração. Fazer natação na infância e na adolescência me proporcionou um fôlego acima da média. Sempre ganhei competições com meus irmãos e meus primos para ver quem agüentava passar mais tempo de baixo d’água (posso passar cerca de dois minutos sem respirar). Para mim, uma das maiores utilidades desse fôlego sempre foi poder prender a respiração quando passava perto de áreas críticas de hospitais ou postos de saúde. Fazia muito isso quando ia com minha mãe (que é médica) ao trabalho dela ou quando visitava algum enfermo. Hoje, só testo meu fôlego quando passo perto de exaustores hospitalares ou de alguém que esteja com uma tosse suspeita de tuberculose.

Tabu 3 ­– Associação de diagnósticos. Todo hipocondríaco que se preze costuma achar que está com os mesmos sintomas das doenças de alguém que conhece ou da matéria que leu na revista. Já fiz isso algumas vezes, mas quase não faço mais até porque ouço vários diagnósticos por dia e iria enlouquecer se fosse me impressionar com tudo.

Apesar de achar que não faço parte do grupo dos hipocondríacos, conheço bem esses seres e sei que eles se dividem basicamente em dois tipos. Os que amam e os que odeiam hospitais.

O primeiro grupo é formado por aquelas pessoas que adoram ir aos médicos (pelo menos um especialista por semana) para fazer um check-up ou reclamar daquela dor que nunca tem sua causa diagnosticada. Esse tipo considera os hospitais uma verdadeira disneylândia e se sentem muito confortáveis dentro das unidades de saúde, onde ficam próximos de profissionais treinados, que dispõem de equipamentos e de um farto arsenal de medicamentos.

O segundo grupo é formado por aqueles que fazem de tudo para não irem ao médico ou fazerem um exame, justamente por medo de que alguma doença seja diagnosticada. Detestam hospitais por acreditarem que esses locais são muito propícios para a concentração de vírus, fungos e bactérias. Também imaginam que os microorganismos desses locais são muito mais resistentes por terem sobrevivido a diversas drogas e terem cruzado com outras variações de sua espécie (Isso tem respaldo científico).

Antigamente me achava mais próximo do segundo grupo, mas agora não tenho fobia de hospital e até achei uma vantagem em trabalhar dentro de um: Ganhei muitos anticorpos que ajudam a me proteger de doenças.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Tesouras

Foto: Evane Manço

Tudo bem. Carnaval para muita gente (!) é sinônimo de farra, putaria e afins. Se for nas ladeiras de Olinda então, nem se fala.

Mas esse comportamento é altamente influenciado pelas mensagens subliminares (e sobrelimininares também!) que circulam na televisão, nos jornais e na Internet durante o período de momo. Depois de assistir a alguns comerciais, é mais fácil acreditar que 12 latas de cerveja é pouco e que uma tira de fantasia é muita roupa.

Quase ninguém reparou, mas neste ano até a Prefeitura de Olinda estimulou a putaria abertamente. Embriagados pelo álcool e outros tóxicos, muitos foliões não perceberam os detalhes da decoração carnavalesca instalada na frente da Prefeitura. Mas o subconsciente de cada um teve ter assimilado a mensagem.

Eu mesmo só observei no final de março e porque me mostraram e aproveitei para dar utilidade à câmera do meu celular. Todas as bonecas de passistas de frevo estavam empaladas em público.







sexta-feira, 27 de abril de 2007

Explicação

Graças a Telemar e ãs chuvas, estou com problemas na minha conexão à Internet.... o que inviabiliza qualquer atualização. Depois do feriado dou um jeito nisso!

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Nas nuvens

Foto: Arquivo da FAB
Perdão aos poucos navegantes que passam por aqui. Tive uma semana difícil e isso refletiu na atualização do blog. Pretendo compensar nos próximos dias. Começo com uma dica cultural:

Trombei em um xavante ontem. Não em um índio, mas no avião de caça da Força Aérea Brasileira (FAB), que já está obsoleto, mas nem por isso menos fascinante. Pois não é que colocaram aquele bichão de 10 metros de envergadura dentro de um shopping center.

Fiquei impressionado. Mesmo tirando as asas, como é que manobraram a porra daquele Xavante AT 26 dentro do shopping? Nem imagino. Só sei que mesmo com 36 anos de idade o bicho continua imponente e está cercado de réplicas em miniaturas de diversas máquinas de guerra. Tanques, navios e aviões de diversas épocas, que fazem voar a imaginação de qualquer um que tenha brincado de comandos em ação uma vez na vida.

Quem estiver interessado pode conferir o xavante de verdade e as miniaturas na ver tudo isso no Shopping Recife até a próxima segunda-feira.

:: Serviço
Exposição Miniaturas dos Grandes Conflitos Mundiais
De 10 a 16 de dezembro
Shopping Recife, em frente às Lojas Americanas

terça-feira, 3 de abril de 2007

Setlist do mau humor

Quando assisti àquele filme Alta Fidelidade (High Fidelity, EUA, 2000), me identifiquei com o protagonista em uma coisa: a estúpida mania de imaginar (e às vezes gravar) trilhas sonoras para diversos momentos da vida. Para instantes de felicidade, tristeza, fúria, tédio ou alegria, sempre há uma trilha que combina.

Às vezes, dá pra medir o humor das pessoas pelo que elas estão ouvindo. Se o cara acordou num dia de sol com vontade de ouvir Vinicius de Moraes ou Bad Religion, é bom humor na certa! Mas passar o dia ouvindo Joe Coltrane, Smashing Pumpkins ou Noel Rosa pode indicar um início de depressão ou uma mágoa oculta.

Como o maníaco protagonista de Alta Fidelidade, de vez em quando me surpreendo pensando sozinho em várias trilhas sonoras perfeitas para situações reais ou hipotéticas.

Como meu humor não está dos melhores, hoje meu setlist seria:

1. One of these days (Pink Floyd) – Abertura adequada para esta trilha. A música é longa e tem um baixo pesado e simples. Um voz gutural pronuncia o único verso da canção: “One of these days, I'm going to cut you into little pieces (Num dia destes, vou te cortar em pedacinhos)”. Não precisava dizer mais nada, né?

2. Mas eu insisto (Devotos) – Punk Rock simples e direto, sem maiores explicações.

3. Paranoid (Black Sabath) – Todo set list que se preze tem que ter um clássico.

4. Zero (Smashing Pumpkins) – Uma das melhores coisas que já saíram da cabeça complicada de Billy Corgan. Pesada e elegante.

5. I wanna be sedated (Ramones) – Só para animar um pouco.

6. Lixo do Mangue (Chico Science e Nação Zumbi) – Música instrumental. Guitarras distorcidas ao extremo feito gritos de horror. Como se não bastasse, contém o vigor e a empolgação de CSNZ presentes em quase todo o seu disco de estréia, Da Lama ao Caos.

7. Mota (Offspring) – A letra não é grande coisa, mas é música é ótima!

8. Sacrifice (Motorhead) – Não sou fã de metal nem ando de motocicleta, mas essa música é muito fuderosa. O baterista da banda é um animal e seu instrumento parece mais uma metralhadora arrebentando tudo que vê pela frente.

9. Só as mães são Felizes (Cazuza) – Um pouco de choque egocêntrico com a interpretação blueseira e charmosa de Cazuza.

10. Generator (Bad Religion) – Obra prima do punk rock. Essa música é um energético sonoro!

Tô doido que o sábado chegue logo para eu ter vontade de ouvir Vinícius.

:: Se alguém quiser, pode citar mais duas músicas para fazer um bonustrack da trilha.

sexta-feira, 30 de março de 2007

Aceita uma xícara?


Quase todo mundo tem uma certa compulsão por algo ou desenvolve esse tipo de comportamento em determinadas situações. Estava pensando nisso, ontem de noite, ao encher um copo de 250ml com uma dose dupla de cappuccino direto de uma daquelas maquininhas da Nestlé. Nunca fui um apreciador de café e jamais tomo essa bebida em casa, mas sempre que estou trabalhando costumo ingerir pelo menos alguns goles de alguma de suas variedades.

As doses freqüentes de cafeína poderiam ser uma espécie de doping para aumentar a concentração, mas acho que é compulsão mesmo. Muito trabalho, pouco trabalho, estresse, tempo sobrando, um papinho entre uma matéria e outra (ou Rosseto para alguns – depois explico isso em outro post), qualquer desculpa serve para ir na máquina de café.
Algumas de minhas piores crises de gastrite ocorreram quando estagiei na CTTU. O motivo? Meu computador ficava ao lado de um pote de bolachas e duas garrafas térmicas de café que eram reabastecidas pelo menos uma vez por dia.


Desde então, tento maneirar, mas sempre fico íntimo das máquinas de café quando trabalho numa empresa que tenha essas engenhocas. Acho que a única vez que usei a cafeína como uma espécie de doping foi no ano em que fiz vestibular, porque gostava de estudar de noite e precisava espantar o sono. Então umas quatro xícaras resolviam. Nada de mais, a não ser que o sujeito não pare por aí.

Na minha época de colégio, um amigo meu começou a tomar café com o mesmo propósito. Na véspera de uma prova gastava quase meio pote de Nescafé para se manter acordado e dar aquela revisada. Depois de alguns meses, a cafeína não fazia o mesmo efeito e ele passou a combiná-la com doses cavalares de pó-de-guaraná. Quando essa química deixou de resolver, ele começou a apelar para os arrebites (remédios utilizados por caminhoneiros para dirigir por 48h seguidas).

O pior é que funcionava e o cara estudava em uma noite o que os outros estudantes passavam uma semana para ler. O único inconveniente era uma tremedeira que dava nele no dia seguinte, inclusive durante as provas. Em uma das vezes que fez vestibular, esse meu amigo quase foi expulso da sala de prova pelos fiscais e outros candidatos porque suas pernas tremiam tanto que sua banca fazia um barulho insuportável.

Mas deu certo. Depois de algumas tentativas frustradas, o cara conseguiu passar em medicina e hoje deve estar na metade do curso. Nem consigo imaginar o que ele aprendeu nas aulas de farmacologia para turbinar os arrebites. Estou com azia só de pensar. Não tenho estômago para isso e acho melhor diminuir minha ingestão de café.

terça-feira, 27 de março de 2007

Mais uma dele

Sisse Brimberg & Cotton Coulson (Keenpress)

Talvez eu tenha cometido um grande injustiça ao esquecer de comentar mais um feito atribuido ao Grande Paulo Barbosa. Mas o blog é bom porque sempre dá tempo de consertar as coisas. Vamos Lá:

Reza a lenda que Paulo Barbosa foi um dos caras que ajudou Nelcy da Sylva Campos a salvar o Recife do que poderia ser o maior desastre da história da cidade. Em 1985, Nelcy foi o cara que corajosamente pilotou um rebocador para afastar um petroleiro que ardia em chamas no Porto do Recife, ameaçando levar a Ilha do Recife Antigo pelos ares. O feito mereceu homenagens e até um busto para ele no porto.

Mas o que pouca gente sabe é que Nelcy foi ajudado por uns marinheiros e um outro cara. E alguns juram que Paulo Barbosa foi um deles. Não consegui o testemunho de ninguém que tivesse certeza disso, mas estou atrás da informação (se alguém souber, se manifeste por favor porque já vasculhei na Internet e só acho referências a Nelcy).

Tenho algumas pistas que podem comprovar a veracidade da informação. 1. Paulo Barbosa parece que trabalha realmente no porto. 2. Em 1998, um certo Paulo Barbosa foi candidato a deputado pelo PMN. Sabem como ele solicitou o registro na urna? Assim: O herói do porto!

Em tempo: No último final de semana, dezenas de pesquisadores, policiais e técnicos de diversas áreas se reuniram para começar a montar o Plano de Segurança do Governo do Estado. Não preciso nem dizer que Paulo Barbosa conseguiu se infiltrar em um dos grupos temáticos e apresentou sua solução para reduzir a criminalidade, né?. Depois de se apresentar como chefe de investigações, ele sugeriu que todos os cidadãos utilizassem crachás com suas identidades. Assim, se alguém cometer um crime, será facilmente reconhecido e punido. Até que faz sentido (não fizeram isso com os flanelinhas né?).

sexta-feira, 23 de março de 2007

E por falar em fila...

No último dia 12, Olinda e Recife comemoraram seus aniversários de 472 e 470 anos respectivamente. Como é de praxe, a Marim dos Caetés e a capital pernambucana realizaram festas com os tradicionais bolos gigantes. Pra variar, milhares de pessoas formaram filas gigantescas nas cidades para ganhar um pedaço de bolo. A do Recife começava na praça do Arsenal e terminava no final da rua do Bom Jesus.

Até aí tudo normal. Mas adivinhem quem foi o primeiro da fila a receber uma fatia do bolo do Recife?

Ninguém mais, ninguém menos que o grande Paulo Barbosa, o pauteiro da cidade! Aqui está a prova:


Foto: Alexandre Severo

:: Se você não sabe quem é a figura, não deixe de ler: O pauteiro da cidade.

quarta-feira, 21 de março de 2007

A fila da histeria 2 - Os registros!

Como havia prometido, aqui estão as fotos da absurda fila formada no Centro de Convenções para comprar ingressos do show de Chico Buarque, por R$ 160 cada. As imagens foram gentilmente cedidas pela amiga Mariana Lima.
Fotos: Mariana Lima
De manhã, milhares de pessoas esperam para (literalmente) darem um passo em direção ao ingresso sonhado.


A tarde, o despero já toma conta da maioria.

Quando a noite chega, o jeito é jogar um baralhinho para espantar o sono.

Cambista consegue se infiltrar na fila de idosos e furar quem esperou tanto tempo. (Quanto será que ele paga pelo meu ingresso?)

:: E Como diria Chico Buarque em Apesar de você:

(...)

Quando chegar o momento

Esse meu sofrimento

Vou cobrar com juros. Juro!

(...)

Você vai pagar, e é dobrado (mesmo!),

Cada lágrima rolada

Nesse meu penar.

(...)

terça-feira, 20 de março de 2007

A fila da histeria


Histeria coletiva. Não há definição melhor para a cena de ontem no pavilhão do Centro de Convenções. Milhares de pessoas esperando o dia todo em uma fila gigante para pagar R$ 160 (R$ 80 se fossem estudantes e tivessem chegado antes das 7h) pelo direito de assistir a um show. Senhoras de meia idade, profissionais liberais, artistas, playboys e mescs (muitos mescs) se acotovelavam na fila que não andou um passo sequer até por volta das 11h.

Chico Buarque é um grande artista e um gênio da música, mas seu show não vale um ingresso que custa quase a metade de um salário mínimo. Muito menos se para conseguir comprá-lo, o ser humano tiver que ser submetido a uma espera tortuosa de até 12 horas. O pior era o desespero das pessoas na fila: meninas e senhoras chorando e gritando “este vai ser o último show dele, ele não vai mais tocar no Recife. Eu tenho que ver aqueles olhos verdes (ou seriam azuis)”. Peraí, galera. Se não acontecer uma tragédia ele vai tocar no Recife outras vezes.

Passei no pavilhão rapidamente para encontrar duas pessoas que esperavam, desde o início da manhã, para comprar os ingressos delas e de mais seis. Não consegui ficar muito tempo vendo aquilo, apesar de terem acontecido algumas cenas memoráveis como a mulher que jogou charme para o policial e furou a fila perto da bilheteria, sendo expulsa na porrada pelos infelizes que esperavam desde cedo. Não sei porque não fizeram o mesmo com aquelas pessoas que compraram 50 e até 140 ingressos de uma vez!

Foi um tal de gente matando aula e trabalho para estar ali naquele “momento histórico”. Cada um que tentasse convocar o idoso da família para poder avançar na fila. O desespero tomou conta do povo quando acabaram os ingressos de estudante, mas é incrível como não quebraram pelo menos umas duas bilheterias pra saquear as entradas e distribuir entre os coitados que passaram o dia lá.

Entre mortos e feridos, todos se salvaram e fui agraciado com um ingresso (de presente, porque não tenho R$ 160 fácil assim). Mas criei um abuso desse show. Pretendo vender a entrada por um bom preço e curtir o CD de Chico na praia. Quem tiver interessado, pode fazer uma proposta.

(Em breve, o Vigia vai divulgar um ensaio fotográfico exclusivo com imagens da fila)

sexta-feira, 16 de março de 2007

Sobre agulhas 2 – O papel de cada um

Como tudo na vida de uma sociedade (que se diz) organizada, a pesca de agulhas também tem sua divisão de tarefas. Embora o princípio básico da diversão na pescaria seja um revezamento nas funções, quase todo pescador de agulha amador acaba se especializando em algum papel, e por isso passa o tempo quase todo brigando para exercer a função em que se julga mais habilidoso.

As funções básicas são:

Facheiro: É o líder da pescaria e segura o facho de luz. Um ser iluminado e iluminador, responsável por descobrir onde estão os cardumes ou as agulhas desgarradas. Precisa saber iluminar bem pra encandear as agulhas e facilitar sua captura. Geralmente, o facheiro é o cara mais experiente da pescaria ou o dono do material usado na caçada. Por isso, se acha no direito de reclamar de todos os outros pescadores do grupo, chamando-os de “cego, burro, jumento, cavalo ou féla da puta que perdeu aquela agulha”.

Puçazeiros: São os pescadores de fato, os caras que levam os puçás (equipamentos de captura das agulhas). Precisa ser ágil para enfiar o puçá na água e não deixar as velozes agulhas escaparem. Geralmente, um grupo de pesca tem dois ou três puçazeiros, que ficam competindo entre si pra ver quem pegou mais peixe. Costumam superfaturar os números da própria pescaria e dizer que suas agulhas são mais gordas. Não importa quantas agulhas o puçazeiro pegue, quando ele perder a primeira será chamado de “cego, burro, jumento, cavalo ou féla da puta”, pelo facheiro.

Jangadeiro: Função opcional. Só participa quando o grupo inventa de pescar com jangada. Precisa conhecer bem a região e saber onde ficam as pedras e locas das moréias.

Bizaqueiro: Carrega o bizaco (saco de pano onde são depositadas todas as agulhas). Geralmente, o bizaqueiro é um pré-adolescente ou um novato na pescaria. Quando a pesca ocorre numa jangada, esse personagem tem a oportunidade de capturar agulhas com a mão. É que algumas se suicidam pulando no barco. Adora reclamar de sua função e pedir para trocar de papel com o puçazeiro. Nada que uns bons cascudos não resolvam.

Cachaceiro: Função opcional. Geralmente é exercida por algum convidado ou novato na pescaria que ta apenas afim de arriar. É responsável por carregar e abastecer o grupo de pesca com bebidas quentes. Às vezes, também porta uma faca peixeira (para catucar o olho do tubarão, caso ele resolva aparecer).

quinta-feira, 15 de março de 2007

Sobre agulhas

O que faz alguém sair de casa de madrugada para entrar de tênis em um mar gelado e cheio de pedras? A necessidade no caso de pescadores profissionais. O desafio no caso de pescadores esportivos.

Como não sou nem uma coisa nem outra, fico me perguntando por que porra fiquei, nesta semana, com tanta vontade pescar agulha em Japaratinga. Passei quase oito anos sem fazer isso, por conta de um quase afogamento coletivo, mas em janeiro deste ano voltamos à prática!
Pra quem nunca pescou agulha, vai uma breve explicação: quatro ou cinco pessoas pegam um facho de luz (pode ser um especial, um simples lampião à gás ou até fogo em palhas de coqueiro). Durante as madrugadas, na maior escuridão, as agulhas ficam encandeadas pela luz do facho, tornando-se presas mais fáceis. Para capturá-las,usa-se um puçá (objeto de alumínio com uma rede). Pronto, depois é só jogar a caça no bisaco (saco de pano).

Não é difícil, o problema são algumas inconveniências da pesca:

1. Após algumas horas no mar, faz frio, principalmente quando venta muito.

2. Se a praia tiver pedras (o que as agulhas gostam), você terá que calçar sapatos. Isso diminui o risco de furar seu pé com ouriços ou rochas afiadas, mas vai entrar areia no seu calçado.

3. Já ouviu falar em “furreca”? Este é o nome local para “água-viva”, aquele ser que de vez em quando encontra suas pernas no mar, causando queimaduras bem dolorosas. Nada que não seja aliviado com lama gelada ou boas doses de whisky, vodka ou cachaça (colocadas em uma garrafa pet, pra facilitar o transporte marítmo).

Voltar pra casa com umas 200 agulhas compensa. Principalmente quando você vai a um bar e vê que o estabelecimento cobra R$ 12 por um prato com oito agulhinhas, enquanto seu congelador tá cheio delas, esperando a degustação gratuita.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Diversão com pouco dinheiro!


Tem gente que diz que não vai se divertir ou perder o fim de semana porque está liso... Isso tá errado. A falta de dinheiro dificulta, é verdade, mas não impede a diversão. A grana curta nos faz mudar alguns hábitos... basta usar a criatividade pra se divertir, gastando apenas:

R$ 25 – Compre um vinho razoável em promoção (o Bompreço tá com liquidação de chilenos) e uma boa massa (Capelletti ou Nhoque). Faça você mesmo aquele jantar romântico que o restaurante cobraria R$ 70 ou R$ 80. É super-fácil... até eu consigo.


R$ 10 – Compre duas coca-colas de 2l e pipoca de microondas. Depois, chame a galera pra jogar War na sua casa. Se os jogadores forem bons, está garantido um dia inteiro de diversão (porque as partidas parecem nunca terminar) . O único problema é o risco de arrumar uma pesada briga com seus amigos... quem já jogou comigo sabe o que eu estou dizendo.


R$ 2 – Vá para o Teatro do Parque e assista àquele filme que você perdeu no multiplex há quatro meses. Se for mesc (descubra aqui), vá pro cineteatro Apolo e pague o mesmo... com a vantagem de poder subir na Torre Malakoff, depois, pra ver as estrelas.


R$ 1 – Compre uma lata de pitú. Misture com o resto de suco do almoço. Depois sintonize sua TV no canal 22 e fique assistindo, de graça, os melhores jogos da NBA e do futebol europeu. Igual àquele seu vizinho que paga R$ 100 por mês pra ter uma SKY.


R$ 0 – Pegue a sessão curta-petrobras de algum multiplex. Fique por dentro dos novos talentos do cinema brasileiro e saia por aí, fazendo pose de intelectual. Logicamente, se você for de carro terá que estacionar naquele posto que fica na esquina do Shopping Center, pra não pagar o estacionamento. É até bom que você dá uma caminhada.


Se alguém quiser acrescentar sua sugestão, fique à vontade!

quinta-feira, 8 de março de 2007

O Pauteiro da Cidade

Passando de bicicleta perto do Porto do Recife, ele vê um incêndio num dos armazéns próximos ao cais. Sua reação imediata é sacar o telefone celular e ligar não para os bombeiros, mas para todos os grandes jornais e TVs do Recife (cujos telefones ele sabe decorados). Se alguém da imprensa já tiver chegado, ele analisa meticulosamente os veículos ausentes e manda um recado para as redações, mais ou menos assim:

“Alô? Cadê vocês aqui no porto? Tá todo mundo aqui vendo o maior incêndio. Já morreu muita gente e o fogo tá destruindo tudo! Venham logo!”. Provavelmente, a descrição está exagerada e não morreu ninguém. Mas sempre há um fundo de verdade nas informações repassadas por Paulo Barbosa, o pauteiro da cidade.

Formulador das teorias conspiratórias mais fantásticas, Barbosa tem a incrível capacidade de estar na hora e no lugar onde estão acontecendo tragédias ou grandes operações policiais.
E sabe de tudo: De onde vem os tubarões de Boa Viagem, quem matou Maria Eduarda e Tarsila, porque os prédios de Pernambuco racham tanto. Boa parte de seus conhecimentos vem da leitura voraz dos jornais e da presença cativa nas audiências públicas da Assembléia Legislativa (onde gosta de pedir a palavra e revelar suas informações “confidenciais”). Junto dele, o personagem de Mel Gibson, em Teoria da Conspiração, fica no chinelo.

As informações sobre esse cara são imprecisas. Aparentemente, ele trabalha no porto. Também dizem que ele foi policial civil há muito tempo e que hoje é detetive particular. Dizem que ele é doido, mas pode ser apenas inteligência demais.

Barbosa sempre acha que a Imprensa está sendo enganada pela Polícia ou outros órgãos oficiais. No dia seguinte à queda do Areia Branca, não acreditei quando o vi participando das buscas pelas vítimas nos destroços junto com os bombeiros. Quando se aproximou, veio a explicação: “Trabalho no porto e tenho curso de resgate, por isso estou aqui como voluntário. Estão dizendo que há poucas vítimas, mas não acredite. Pelo cheiro de sangue, há pelo menos 100 pessoas soterradas e os bombeiros querem esconder isso”. Depois ficou provado que eram quatro.
Outra vez, ele aproveitou que uns 20 jornalistas estavam acompanhando um navio em quarentena por suspeita de alguma doença fuderosa , para dizer que dois tripulantes haviam morrido e outro perdido o braço num acidente em outra embarcação. Na verdade, um marinheiro tinha machucado a mão.

Mas nem sempre PB erra. No auge do caso Serrambi, Barbosa foi a um jornal da cidade para apresentar, a uma certa repórter doidinha, o resultado de sua investigação sobre o caso: Uma nova testemunha, papéis de bom-bom e lâminas de barbear. Na outra semana, o Grupo de Operações da Polícia confirmou a testemunha e apresentou as mesmas provas.
Definitivamente, o cara já virou uma lenda do jornalismo pernambucano. Doido ou não, Paulo Barbosa tá sempre por aí. A espera de um grande acontecimento para investigar, pautar a Imprensa e encaixar mais uma peça no quebra-cabeça de uma grande conspiração.

terça-feira, 6 de março de 2007

Você é Mesc?


Inspirado nos ótimos “testes de piniqueira” (sic) do melhor blog da cidade, o Mandra Brasa, o Vigia faz sua primeira enquete.

Informação para quem tem mais de 30 anos:
Mesc.: def. (1) Sigla de Movimento Eu Sou Cabeça. (2) Pessoas que “vivem” e “respiram” a cultura tradicional pernambucana, armorial e indie; que freqüentam as festas mais descoladas da cidade. Alguns são autênticos, pelo menos, outros apenas curtem a moda. Não importa, afinal os Mescs são um verdadeiro fenômeno social. Para descobrir se você é um responda ao questionário:

1. Você mora:

a) Na praça de Casa Forte.
b) Na Cidade Alta de Olinda.
c) No Poço da Panela.
d) Nos arredores de algum desses três lugares.
e) Em qualquer outro local.

2. Se você fosse sair para beber com seus amigos, escolheria qual destes bares?

a) O Burburinho.
b) A Toca da Joana.
c) O Bar do Bigode.
d) O Central.
e) Qualquer box do mercado da Boa Vista.

3. No Carnaval, você não pode perder:

a) O Enquanto isso na Sala da Justiça.
b) Os amantes de Glória.
c) Os shows do Rec Beat.
d) O Eu Acho é Pouco.
e) O Tanajura com Farinha.

4. Para você, Maciel Salu é:

a) Um artista promissor.
b) O rei da rabeca.
c) O cara responsável pela redenção da música pernambucana, na geração pós manguebeat.
d) O filho de Mestre Salustiano.
e) Um desconhecido.

5. Se quer ir ao cinema, você:

a) Pede àquele(a) seu amigo jornalista pra descolar alguma pré-estréia, não importa de que filme.
b) Vai à Fundaj porque lá você vai ver e ser visto por pessoas legais e descoladas do meio cultural.
c) Vai ao cine-teatro Apolo porque só lá está passando aquele filme de Truffaut que você queria ver há tanto tempo.
d) Vai ao Box ou a um multiplex porque a poltrona é confortávelo e o som é do caralho, tornando mais emocionante aquele blockbuster criticado pelos cadernos de cultura.
e) Desiste quando sabe o preço da entrada e vai tomar cachaça no Mercado da Boa Vista.

6. Se você estivesse na locadora de vídeo, alugaria:

a) Um filme de Fellini.
b) O mais novo lançamento de Almodóvar ou do cinema latino-americano.
c) Algum representante do maravilhoso cinema iraniano.
d) Alguma coisa de Quentin Tarantino.
e) Qualquer filme da saga de Star Wars.

7. Se pudesse mudar de profissão, você viraria:

a) Cineasta.
b) Agitador cultural.
c) Fotógrafo de moda.
d) Músico.
e) Jogador de futebol.

8. Se pudesse escolher uma banda para tocar em seu churrasco de aniversário, ela seria:

a) Negroove.
b) Mombojó (ou Del Rey).
c) Coco Raízes de Arcoverde.
d) Mundo Livre S/A.
e) A banda do meu vizinho.

9. As melhores festas são:

a) As do Xinxin da baiana.
b) Aquelas do Usina.
c) As prévias do Eu Acho é Pouco.
d) As trash dances.
e) As BLs.

10. Você fez faculdade:

a) Na Rural.
b) No CAC ou no CFCH.
c) Em algum curso de comunicação da Unicap.
d) Em qualquer outro local.
e) Não fiz faculdade ou estudei no CAC, mas critico os Mescs em meu blog.


Para cada resposta A, marque 8 pontos.
Para B e C, marque 10 pontos.
Para D, marque 5 pontos.
Para E, marque 0 pontos
.

:: Resultado:

0 a 15 pontos: Você definitivamente não é Mesc, passa longe de qualquer lugar onde eles estejam e se vê um na rua, tem vontade de matar.
16 a 45 pontos: Você não é Mesc, mas suporta a existência dos que são.
46 a 75 pontos: Não adianta. Você pode até não saber, mas é Mesc.
75 a 100 pontos: Mesc de Raiz. Do legítimo Poço da Panela!
.
:: Quem fizer comentários, deve colocar sua pontuação ao lado. :P

sábado, 3 de março de 2007

Nem em Sucupira!

Ilustrações: Igor Kopelnitsky
A política brasileira sempre foi farta de homens públicos folclóricos, que deixaram seus nomes gravados na História graças a anedóticos atos administrativos. Nenhum deles, no entanto, chegou a superar o atual prefeito de Jaboatão dos Guararapes e ex-deputado estadual, Newton Carneiro. Quem conhece razoavelmente a política pernambucana com certeza sabe de algumas das histórias de Newton, que chegou a ir à Assembléia Legislativa numa carroça puxada por dois pangarés. Foi seu protesto contra o alto preço dos combustíveis, durante a Guerra Irã-Iraque.

Em campanhas eleitorais, Newton repete seus gestos tradicionais como pedir para dormir em um cantinho do sofá da casa de eleitores pobres “por estar muito tarde para voltar para sua residência” ou solicitar que os moradores da comunidade ajudem a empurrar seu carro “que está quebrado, mas o conserto é caro”. Pois foi doando caixões para as famílias carentes enterrarem seus mortos e enchendo os bolsos do paletó com bolachas e mariolas (para atender aos pedintes da Assembléia e das ruas sem ter que gastar dinheiro) que Newton ganhou a simpatia do povão, consolidando-se como mito do folclore político e resistindo até hoje com um grande eleitorado cativo e fiel.
O retorno
Desde que voltou à prefeitura em 2005 (após ser afastado em 1998 por uma série de escândalos no município), as atitudes mais excêntricas de Newton Carneiro passaram a ser filtradas pelo batalhão de assessores que o blindam. Mas algumas continuam escapando para o bem do anedotário político.

No início do mandato, o burgomestre jaboatonense aproveitou uma entrevista exclusiva a um repórter de Política do Diario de Pernambuco para revelar em off seus planos para baixar o preço da gasolina e fazer a redenção econômica do município. “Vamos furar poços de petróleo. Jaboatão tem petróleo. Veja: A linha do Equador (sic) que passa na Nigéria é a mesma que passa em Jaboatão. Se lá tem petróleo, aqui também tem!”, sentenciou. Até hoje, a criativa idéia não foi posta em prática.
O apelo
Meses depois, fortes chuvas arrasaram municípios pernambucanos, deixando milhares de desabrigados. Jaboatão foi um dos locais mais atingidos. Ao visitar a comunidade de Moenda de Bronze para fazer a matéria da tragédia, um outro repórter do DP (que também não era eu) avistou um velhinho sentado numa escadaria, olhando o cenário de destruição, com as calças arregaçadas até os joelhos. Não acreditou: era o prefeito conferindo in loco a calamidade pública! Aproveitou e entrevistou Newton que solicitou as tradicionais verbas dos governos Estadual e Federal, antes de fazer um último pedido que reproduzo a seguir:

Prefeito: Meu filho, posso fazer uma última declaração para você escrever no jornal?
Repórter: Claro, prefeito. Diga aí.

Prefeito: Eu queria fazer um apelo aos ladrões de Jaboatão.
Repórter: Aos ladrões, prefeito?

Prefeito: Sim, meu filho, aos Ladrões: Vocês estão vendo que Jaboatão está arrasada. Essas pessoas já perderam tudo. Então, pelo amor de Deus, parem de roubar aqui em Jaboatão. Por favor, tenham pena dessa gente sofrida. Vão roubar lá no Recife de João Paulo, na Olinda de Luciana Santos ou no Cabo de Elias Gomes.

Repórter: Desculpa, prefeito. Mas não seria melhor se eles não roubassem em canto nenhum?
Prefeito (depois de pensar alguns segundos): É mesmo, meu filho, você está certo. Então vão roubar lá em João Pessoa, que é na Paraíba!

quinta-feira, 1 de março de 2007

Doenças e receitas para curá-las

Dizem que, com exceção da Morte, não há mal sem remédio. Mesmo assim, freqüentemente, somos surpreendidos sem resposta imediata para vários surtos de inconveniência que assolam nosso meio social, cultural, econômico, etílico e por aí vai. Aqui vão receitas para combater as que considero mais chatas.

Doença – Vizinho ouvindo pagode na maior altura.
Receita – Bad Religion no mesmo volume. Mas também serve Ramones, The Clash, Metallica (antes do Black álbum), The Stooges, Nação Zumbi, Devotos, Pantera ou o punk rock/heavy metal genérico que tiver à sua disposição.

Doença – Festa de 15 anos ou casamento chatíssimo daquele contraparente que você nunca ouviu falar.
Receita – Tome de 0,5 a 1 l de álcool destilado, diluído em doses variadas de acordo com seu gosto.

Doença – Galvão Bueno ufanizando sua televisão.
Receita – Tecla mute.

Doença – Flanelinha.
Receita – Quando o prestativo guardador de veículos estiver abordando outra potencial vítima de extorsão, corra para o seu carro e arranque!

Doença – Desnutrição pós-ressaca.
Receita – Patinho na feijoada do Mercado da Boa Vista.

Doença – Sessão de filme iraniano.
Receita – Depois de ser obrigado (provavelmente pela namorada ou pelos amigos Mescs) a assistir a uma película made in Teerã, veja logo em seguida qualquer filme de Rocky Balboa (de preferência o 1, o 4 ou o 6). Caso a doença iraniana tenha sido aquela em que o menino passa o filme todo atrás de um sapato, é recomendável uma dose extra de remédio que pode ser O Poderoso Chefão, Scarface ou Os bons companheiros.

Doença – Mala que sai da mesa sem pagar a conta (ou deixa apenas R$ 3,00 depois de beber a noite toda).
Receita – Se alguém souber essa, sem coação física, me avise!

A volta dos que não foram

Findo o motivo pelo qual deixou de existir, o Vigia da Natureza volta a poluir o cyberespaço depois de quase um ano de ausência. Desta vez, com endereço e visual novo. Mas a proposta continua a mesma: nenhuma. Eventualmente, alguma coisa do antigo vigia poderá ser resgatada para matar as saudades (se encontrar algo que preste ali). Enfim... vamos ver se dura mais tempo desta vez.